Me Despedindo do Brasil

Desde que me conheço por gente, sempre quis mudar de país. Nem tanto no começo – no começo era mais o romantismo de “mudar de país”, do desafio da nova cultura, de novas experiências. E talvez também porque sempre soube que minha mãe morou for a do Brasil por um ano quando tinha 18 anos. Porém, no decorrer dos anos minhas idéias se transformaram… Não pense você que desisti de mudar de país, apenas amadureci as razões pelas quais queria me despedir do Brasil.

Quando tinha 14 anos, saí do Brasil pela primeira vez. Fui logo para Praga, na República Tcheca. Não, eu não escolhi para onde eu ia. Na época, minha mãe trabalhava com relações internacionais, e todo ano tinha uma viagem para o mundo afora. Neste ano, calhou de ser em Praga. Verdade seja dita, se eu tivesse que escolher minha primeira viagem internacional de novo, escolheria Praga.

Já vivi outros 14 anos desde que fui para Praga, mas ainda me lembro das ruazinhas estreitas, da história na arquitetura, da língua engraçada e do friozinho que nunca tinha passado. Me lembro das comidas estranhas, do jantar mais chique que ja fui na minha vida. E claro, também me recordo do valor cultural e histórico que aquele pedacinho de terra tanto aprecia.

Mas este não é um texto sobre minha viagem à Praga. Quando voltei ao Brazil, tudo que me restou foram as lembranças. Lembranças da sede que eu tinha de viver aquela cultura e experimentar tudo de novo. Antes dessa viagem eu já sabia, mas depois dela eu tive certeza: Eu ainda ia morar fora do Brasil.

Anos se passaram… Fiz um mini-intercâmbio para San Antonio, no Texas. Foi apenas um mês fazendo aulas de inglês. Essas coisas que hoje em dia são muito comuns, mas há 10 anos não se ouvia tanto falar nisso… Foi excelente. Uma maneira excelente de acelerar o aprendizado de Inglês, de me tornar mais independente e de realmente mergulhar numa cultura que não me era familiar (apesar dos Estados Unidos terem a cultura BEM mais similar à do Brasil, do que a República Tcheca).

Voltei ao Brasil sem querer voltar. Mas voltei sabendo que lá eu não ia ficar. Quão fascinante é aprender que existem outras coisas além do pão francês para se comer no café da manhã. Ou aprender que o espaço pessoal de um Brasileiro é bem diferente de um Estado Unidense. Quão fascinante aprender que as culturas são tão ricas e que cada detalhe constrói a personalidade de um país.

Terminei o colégio, comecei faculdade… Sempre fui feliz! Sempre tive tudo e muito mais que poderia pedir. Eu minto, se eu disser algum dia que o Brasil me deixou na mão. Não me deixou… Mas a vontade de conhecer novos lugares sempre foi muito grande.

No meio da faculdade, entre dilemas e mudanças na vida financeira , entre empregos e entre crises existenciais: fui viajar de novo. Dessa vez eu decidi que queria aprender a falar em Francês. Ir para a França era muito caro, mas hey! Tem um país que fala em Francês na América do Norte. Lá fui eu para o Canadá. Em Janeiro.

Note que: no Brasil em Janeiro é verão. O que faz com que no Canadá seja inverno. Quem bem conhece uma piada Canadense, sabe que boa parte do ano, o país fica sob a neve. E isso não é diferente em Montreal, no Quebec, onde eu fui. Cheguei a pegar temperaturas mais do que negativas… -27oC!!! Fez muito frio. Mas isso não congelou minha memória e eu aproveitei demais!

Montreal me fascinou de uma forma, que eu quase não peguei o vôo de volta para o Brasil. Similar à Europa, com muita história na arquitetura, muito romance na língua, o fondue tão perfeito que vem até chocolate branco, ao leite e meio amargo, as cervejas artesanais… A educação. Me desculpe, mas a educação (você está no Canadá e pegou a piada?). Se eu começo a listar todas as coisas que me encantam sobre essa cidade… Até a neve fica romântica em meio à confusão que ela cria.

No final das contas eu tive que pegar o vôo de volta para o Brasil. Quer dizer, eu não “tive”que…. Mas o Brasil virou terra de promessa pra mim. Enquanto eu estava viajando, recebi um convite para fazer entrevista em um estúdio que eu adorava e além disso, fiz uma entrevista promissora por skype… Muita coisa podia rolar. Dois empregos que eu queria MUITO! Então eu voltei.

Voltei e nada deu certo. Nem um emprego e nem outro. Mas tudo bem. A procura continuou…. Pouco tempo depois achei um emprego. Trabalhei lá por três anos, sempre sabendo que aquilo tinha um prazo de validade pra mim. Eu não estava num emprego que me agradava – e eu sei que muita gente trabalha em algo que não gosta, e continua trabalhando*, mas ao contrário do que muita gente faz, eu não queria me confortar com aquilo. Meu destino era o mundo. Talvez por esse tipo de pensamento meu que eu nunca consigo morar em algum lugar por mais de três anos desde que voltei de Praga… Acho que tenho essa cabeça meio nômade agora.

Enfim, trabalhei, trabalhei, trabalhei… Até conhecer uma pessoa tão louca quanto eu. Casamos. E isso nunca foi desculpa para continuar no Brasil, no emprego das 8h as 18h (ou no caso do louco que entrou na minha vida, das 9h às 23h). A desculpa de casar foi para sair do Brasil. Juntamos as tralhas e decidimos que seria Canadá.

Durante o próximo ano da nossa vida, fizemos planilhas de todo dinheiro que arrecadávamos (não arrecadávamos, trabalhamos por ele ha ha) e de tudo que a gente gastava. Todo mês, religiosamente – centavo por centavo. Depois do primeiro mês a gente já tinha noção das coisas que mais gastávamos dinheiro à tôa.

Mas a gente sabia, sem sacrifício, não teria Canadá. Teve uma boa época dessa fase, que o Canadá era apenas uma miragem, um anseio… Não tínhamos idéia se daria certo. Mas trabalhamos demais para que essa idéia se tornasse realidade.

E cá estamos nós hoje. Há quase cinco anos no Canadá. E se eu pudesse mudar como as coisas aconteceram…. Não mudaria uma vírgula. São tantas outras aventuras vindo, e tanta coisa mais pra se despedir! Cada despedida um momento novo.

*olha só, essa sou eu hoje – eu trabalho em algo que não me agrada, mas você vai saber mais porque…

 

Imagem: Ashim D’Silva

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